O simbolismo mais profundo por trás das multiplicações dos pães e peixes feitas por Jesus

03/06/2020 15:15
                             
 
E a multidão viu-os partir, e muitos o conheceram; e correram para lá, a pé, de todas as cidades, e ali chegaram primeiro do que eles, e aproximavam-se dele.
E Jesus, saindo, viu uma grande multidão, e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor; e começou a ensinar-lhes muitas coisas.
E, como o dia fosse já muito adiantado, os seus discípulos se aproximaram dele, e lhe disseram: O lugar é deserto, e o dia está já muito adiantado.
Despede-os, para que vão aos lugares e aldeias circunvizinhas, e comprem pão para si; porque não têm que comer.
Ele, porém, respondendo, lhes disse: Dai-lhes vós de comer. E eles disseram-lhe: Iremos nós, e compraremos duzentos dinheiros de pão para lhes darmos de comer?
E ele disse-lhes: Quantos pães tendes? Ide ver. E, sabendo-o eles, disseram: Cinco pães e dois peixes.
E ordenou-lhes que fizessem assentar a todos, em ranchos, sobre a erva verde.
E assentaram-se repartidos de cem em cem, e de cinquenta em cinquenta.
E, tomando ele os cinco pães e os dois peixes, levantou os olhos ao céu, abençoou e partiu os pães, e deu-os aos seus discípulos para que os pusessem diante deles. E repartiu os dois peixes por todos.
E todos comeram, e ficaram fartos;
E levantaram doze alcofas cheias de pedaços de pão e de peixe.
E os que comeram os pães eram quase cinco mil homens.
E logo obrigou os seus discípulos a subir para o barco, e passar adiante, para o outro lado, a Betsaida, enquanto ele despedia a multidão.


Marcos 6:33-45
 
Abordaremos hoje as duas multiplicações dos pães e dos peixes efetuadas por Jesus durante o seu ministério. 
Deixamos acima para leitura a primeira, sendo que a segunda pode ser consultada em: https://www.bibliaonline.com.br/nvi/mc/8
 
Fora o óbvio significado destas passagens demonstrando que jesus pode suprir todas as nossas necessidades humanas, inclusive as físicas, Jesus nos deixa ainda a dica que a organização e cooperação das pessoas seria o suficiente para que, por essa mesma organização, nada faltasse a ninguém (veja como Jesus apela à disposição organizada do povo). Dessa forma haveria com certeza alimentos para todos (coisa que não vemos acontecer neste mundo devido à ganância de alguns).
Mas nesta matéria iremos um pouco mais a fundo no simbolismo destas passagens.
 

A primeira multiplicação 

 
Primeiramente, precisamos estar atentos aos lugares e aos números que os textos nos apresentam.
A primeira multiplicação ocorreu em território puramente judaico/israelita (deserto da Judeia). Se o lugar está identificado, analisemos agora os números, e aí temos 5 pães, 2 peixes e 12 cestos que sobraram.
 
Os simbolismos judaicos
A Torah ou o Pentateuco chamado de Lei de Moisés é formado por cinco livros: Genesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronómio. A leitura da Torah no tempo de Jesus pelos Judeus que é chamada de Parashah, era acompanhada semanalmente aos Sábados pela leitura dos Profetas que se chamaria Haftarah. Sempre depois da leitura semanal da Torah era feita a leitura semanal dos Profetas em duas porções. Parashah da Torah e depois a Haftarah dos Profetas, este virou o costume e a liturgia judaica por excelência.
Parece que tudo isto não tem nada a ver com a multiplicação dos pães de Jesus de Nazaré. É verdade, mas só parece, pois tem tudo a ver, conforme veremos a seguir.
Não podemos nos esquecer dos números até aqui apresentados, vamos relembrar:
 
Cinco pães - - - - - - Torah = cinco livros (5)
Haftarah = duas porções dos Profetas - - - - -Dois peixes (2)
Israel = 12 tribos - - - - - - O que sobrou = Doze cestos (12)
 
Se além de todas estas conexões fizermos uma associação do deserto onde o milagre é feito por Jesus com a travessia dos judeus pelo deserto liderada por Moisés, e do pão com o maná que alimentava esses mesmos judeus na travessia, já podemos desvendar a alegoria da primeira multiplicação.
Jesus estava claramente a indicar que a sua doutrina estava intimamente ligada à palavra de Deus patente no velho testamento e que esta deveria ser difundida pelos seus doze discípulos ao povo judeu de forma paralela.
Em outras palavras, Jesus mostrava aos discípulos para ensinarem e repartirem os seus ensinamentos de forma paralela à Torah e aos Profetas com os judeus, pois a missão de Jesus era formar um novo Israel que obedecesse e seguisse a Torah. Toda a vida de Jesus no início do evangelho de Mateus tem este simbolismo, apresentando Jesus como a Torah Viva, veja: 
 
Batismo de Jesus no Jordão  - ->Travessia do mar vermelho e do Jordão 
Tentação de Jesus no deserto - - >Travessia e tentação do deserto 
As bem aventuranças e o sermão do monte são a "nova" Torah, o novo Sinai - - > Torah dada por Deus no monte Sinai
 
Concluindo, a primeira multiplicação foi em solo puramente judaico, no deserto da Judeia, cheio de simbolismo, representando o deserto e a travessia do povo quando teve fome e Deus enviou o maná. Jesus é o novo Moisés que recebeu a Lei e a transmitiu aos líderes de cada Tribo. Os 5 pães são a Lei, o Pentateuco. Os 2 peixes, os Profetas, os 12 cestos apontam para os discípulos que agora são os novos lideres de cada Tribo, estes teriam a incumbência de instruir os Judeus sobre os ensinamentos de Jesus e assim repartir com eles.
 

A segunda multiplicação 

Agora para finalizar nosso estudo vamos à segunda multiplicação. Por que Jesus realiza uma segunda multiplicação?
E antes de abordarmos a segunda multiplicação vamos fazer uma análise ao que Jesus fez posteriormente à primeira:
A primeira multiplicação Jesus realiza em solo judaico e em benefício dos judeus, como já vimos acima. Depois vemos Jesus a dirigir-se a territorio gentio (estrangeiro). E em territorio gentio, após a primeira multiplicação, Jesus realiza um exorcismo, ou seja, expulsa o demônio da filha da mulher Cananeia, simbolizando expulsar os demônios dos gentios e os purificar. Após isto, Jesus cura um surdo e um mudo na Decápolis, simbolizando a cura da surdez e mudez dos gentios em relação as Leis de Deus e sua palavra.  O cenário está pronto e os gentios estão preparados. Agora é hora da segunda multiplicação!
A segunda multiplicação ocorre em território gentio na Decápolis em benefício dos gentios, ou seja, para os pagãos que foram purificados ao Jesus expulsar deles o demônio.
 
Analisemos os números que rodeiam este milagre:
Sete pães (7) 
Alguns peixinhos (indefinido)
Quatro mil homens (4000)
Três dias (3)
 
Na altura de Jesus os judeus tentavam arranjar discípulos nos gentios (o chamado proselitismo), ensinando-lhes um género de Torah simplificada, que tinha por nome a Lei Noética (1), essa lei é composta por sete mandamentos:
1. Creia em Deus. Não sirva a ídolos. 
2. Não blasfemar seu nome. Respeitar Deus e louvá-lo  
3. Não roubar. Respeitar os direitos e propriedades alheios
4. Não matar. Respeitar a vida humana. 
5. Não cometer adultério. Respeitar a família. 
6. Cumpra as leis do país. Criar um sistema judicial. Persiga a justiça. 
7. Não coma um membro de um animal vivo e não seja cruel com animais (não comer sangue).
 
A Lei Noética estabelecia um mínimo de pureza para um gentio poder passar a ter uma relação com o Deus de Israel e com os judeus. Apesar da Lei Noética ter sido dada apenas temporariamente até que Moisés introduzisse a Mosaica, era assim que os judeus procuravam fazer discípulos entre os gentios e Jesus sabia disso, sendo assim utilizou esse costume para mais fácil compreensão e analogia do que Ele queria demonstrar.
 
Sete pães
Os sete pães neste caso remetem então para os sete mandamentos básicos que deveriam ser introduzidos aos gentios.
Então, os sete pães são as sete Leis de Noé que foram dadas aos gentios em terras gentílicas. E "alguns" peixinhos são pequenos trechos dos profetas que também poderiam ser repartidos com os gentios.
Os quatro mil homens
O número quatro na Bíblia está sempre ligado aos quatro cantos da terra, ou seja, a todo o mundo, neste caso multiplicado por mil representa a totalidade da humanidade sem exceções.
Os 3 dias
Três dias, também não é por acaso, jesus sinaliza aqui que seus ensinos serão apresentados entre os gentios até ao terceiro milénio, coisa que de fato se verificou.
 
Ou seja, vemos aqui a relação de Jesus também profetizada em relação aos gentios. Vejamos:
Jesus purifica os gentios expulsando-lhes o demônio, cura-os da surdez, cura-os da mudez, mas ainda faltava uma coisa.
Marcos 8:22 Então, chegaram a Betsaida; e lhe trouxeram um cego, rogando-lhe que o tocasse. 23 Jesus, tomando o cego pela mão, levou-o para fora da aldeia e, aplicando-lhe saliva aos olhos e impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe: Vês alguma coisa? 24 Este, recobrando a vista, respondeu: Vejo os homens, porque como árvores os vejo, andando. 25 Então, novamente lhe pôs as mãos nos olhos, e ele, passando a ver claramente, ficou restabelecido; e tudo distinguia de modo perfeito. 26 E mandou-o Jesus embora para casa, recomendando-lhe: Não entres na aldeia. Jesus agora os cura da cegueira. Cegueira espiritual. 
Agora os gentios podem falar, podem ouvir e podem ver, sim falar das grandezas de Deus, ouvir sua Lei, ver e apreender com os ensinamentos do seu Messias! Sim, agora os gentios podem ver quem é realmente o Messias prometido de Israel. Por isto alguns peixinhos (que como vimos representam os livros dos profetas) são necessários, porque as profecias do Messias estão nos livros dos Profetas.
 

Conclusão

 
Abordamos o simbolismo utilizado por Jesus nas duas multiplicações dos pães e peixes, esse simbolismo tem evidente importância na forma como Jesus trabalharia tanto por si, como pelos seus discípulos, na evangelização deste mundo, começando no seu próprio povo - os judeus - passando posteriormente à evangelização dos gentios em todo o mundo criado.
Este é mais um rico exemplo de como a escritura esconde dentro de si segredos a ser desvendados aos diligentes estudantes da mesma.
SHALOM
 
 

Referências

(1)  As sete Leis de Noé
https://pt.wikipedia.org/wiki/As_sete_Leis_de_No%C3%A9
 

Fontes

A MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES
www.eliezerestudosbiblicos.com.br/file/271173/jesus-e-a-multiplicacao-dos-paes.pdf