Simão, o Leproso e Simão, o fariseu, são o mesmo? - E porque isso importa

02/06/2017 12:22
                     
 
Nota: Este é um artigo que além de harmonizar os relato dos diferentes evengelistas tenta explicar de forma mais profunda as palavras de Jesus a certo fariseu que interiormente o censurou por este ter aceitado uma unção por parte de uma mulher que teria sido pecadora.
Para um correto entendimento deste artigo recomendamos a leitura das passagens da escritura que serão aqui analisadas:
Mateus: www.bibliaonline.com.br/acf/mt/26/6-13
Marcos: www.bibliaonline.com.br/acf/mc/14/3-9
Lucas: www.bibliaonline.com.br/acf/lc/7/36-50
João: www.bibliaonline.com.br/acf/jo/12/1-8



CENÁRIO


 
Todos os quatro Evangelhos contam uma história duma mulher que ungiu Jesus com perfume caro, mas os relatos diferem, e normalmente se presume que eles se baseiam em dois eventos - com duas mulheres diferentes ungindo Jesus em diferentes ocasiões, uma na casa de Simão, o leproso em Betânia e o outro na casa de um fariseu chamado Simão.


Mas uma cuidadosa comparação das histórias revela uma imagem mais clara e traz uma importante lição. Os relatos de Mateus, Marcos e João muitas vezes dão a entender que contam um acontecimento relativo a Maria, a irmã de Marta (João 11: 2) e o relato em Lucas outro acontecimento sobre uma mulher diferente que tinha vivido uma vida pecaminosa. Mas todas as aparentes diferenças entre as histórias podem ser facilmente reconciliadas. Por exemplo, Mateus e Marcos dizem que a mulher ungiu a cabeça de Jesus, os outros evangelhos dizem que seus pés foram ungidos. Mas a mulher pode muito bem ter ungido a cabeça e os pés de Cristo - gravados diferentemente de acordo com o foco que os diferentes evangelistas individualmente tinham em mente (isto é, a cabeça para uma unção real ou uma unção para sepultamento).

Seria uma estranha coincidência se duas mulheres tivessem ungido Jesus com o mesmo tipo de perfume caro e enxugado os pés com os cabelos. Se eram mulheres diferentes, porque os escritores evang
elistas não as diferenciavam de alguma maneira? Por outro lado, aquela Maria, irmã de Marta, sendo a única mulher que ungiu Cristo, talvez seja mencionada mais cedo no relato de João, onde nos diz: 
"E Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com ungüento, e lhe tinha enxugado os pés com os seus cabelos"
João 11:2
Ora  João diz "era aquela que", em vez de "uma das mulheres que". Também seria estranho se nenhum dos quatro escritores do evangelho registasse ambos os eventos, se dois eventos semelhantes tinham ocorrido. Isto é especialmente verdadeiro considerando as palavras de Jesus em Marcos 14: 9: "Eu lhes asseguro que onde quer que o evangelho for anunciado, em todo o mundo, também o que ela fez será contado em sua memória"Será que Jesus colocava tanto ênfase caso este fosse o segundo caso de dois virtualmente idênticos? Se isso tivesse sido feito por duas mulheres diferentes, certamente ambos seriam claramente registados.
Sendo que os vários relatos sobre a mulher que ungiu os pés de Cristo envolvem o mesmo evento, evidencia mais um fato. O relato de Lucas diz que o evento ocorreu na casa de um fariseu chamado Simão, os outros dizem que foi na casa de Simão, o Leproso, em Betânia. Contudo Simão, o Leproso e Simão, o Fariseu, provavelmente são a mesma pessoa. Um leproso nunca poderia ter oferecido um jantar nem ter participado em um com outras pessoas - Simão, o Leproso deve ter sido curado e poderia assim ter sido o mesmo que Simão, o Fariseu. 
Simão pode muito bem ter sido referido como "o fariseu" em Lucas porque Lucas enfatiza a resposta de Jesus à atitude farisaica e auto-justificada de Simão, enquanto os outros Evangelhos o recordam como Simão, o Leproso. O facto de a mulher “pecadora” poder entrar na casa de um fariseu fica também explicado se esta fosse Maria a irmã de Marta, que era certamente a mulher de Simão.

E porque isso importa?
Se Simão, o Leproso, e Simão, o Fariseu, são um e o mesmo, então as palavras de Jesus a este homem assumem um significado muito maior. Os comentários sobre Lucas 7: 36-50 geralmente enfatizam o fato de que Jesus apontou para o fariseu que ele não tinha recebido Jesus como a mulher, mas devemos observar o contexto e o que Jesus realmente enfatiza antes de continuar fazendo uma comparação entre a mulher e Simão:
E respondendo, Jesus disse-lhe: Simão, uma coisa tenho a dizer-te. E ele disse: Dize-a, Mestre.
Um certo credor tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos dinheiros, e outro cinqüenta.
E, não tendo eles com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Dize, pois, qual deles o amará mais?
E Simão, respondendo, disse: Tenho para mim que é aquele a quem mais perdoou. E ele lhe disse: Julgaste bem.

Lucas 7:40-43


Por que Jesus falou com o fariseu sobre a gratidão pelo perdão? Observe que Cristo disse que duas pessoas haviam sido perdoadas, uma muito, outra menos - e insinuou que aquele a quem perdoou mais, amou mais. Se a Simão, o fariseu, tivessem sido perdoados pecados e este tenha sido curado de lepra por Jesus, esta parte da história faz todo o sentido. Simão é aquele a quem Jesus perdoou uma quantia menor, Maria aquela a quem perdoou uma quantidade maior, mas quem então amou mais?

Mas o comentário de Jesus ao fariseu reduz a nada qualquer compreensão auto-justificada do perdão. Ao falar ao fariseu como Jesus fez, mostrou ao homem a hipocrisia de aceitar o perdão e ainda olhar para os outros como pecadores. As palavras de Jesus mostraram não somente que aqueles que são mais perdoados, amam mais - e podem mostrar muito mais gratidão -, mas também que aqueles que foram perdoados nada estão em posição de julgar os outros com justiça própria, não importa o quanto eles possam ter pecado.  Quando alguém é perdoado é mais um de nossos irmãos com os mesmos direitos e garantias que qualquer outro no Reino de Deus.
Olhar para o perdão de Deus de outra forma que Jesus nos mostra, é vestir a pele de alguém cego pela sua própria auto-justiça. É andar na pele de um fariseu.


Fonte:

Are Simon the leper and Simon the Pharisee the same? - and why it matters
www.livingwithfaith.org/blog/are-simon-the-leper-and-simon-the-pharisee-the-same-and-why-it-matters